Quatro Frentes de Batalha e Uma Arma: a Persuasão
O caminho para chegar a uma economia mais estável passava por várias frentes de batalha e desdobrava-se em etapas. Não tínhamos de antemão inteiramente estabelecido o mapa de voo, mas certa noção do rumo que queríamos tomar e, não menos importante, dos caminhos pelos quais nos recusaríamos a enveredar.
A primeira frente de batalha era ajustar tanto quanto possível o Orçamento daquele ano, 1993, e preparar um Orçamento equilibrado para 1994. Estabelecer a “verdade orçamentária”, segundo expressão da época, era parte essencial do esforço para recuperar a credibilidade do governo. A sociedade precisava acreditar que o governo estava de fato comprometido com o equilíbrio das contas públicas. O governo, por sua vez, necessitava dispor de meios para tanto. E tinha que elaborar um Orçamento que espelhasse isso de forma mais transparente possível. Sem encaminhar solução adequada a essa complicada equação, o combate à inflação não iria longe. Por essa razão, nos empenhamos em obter no Congresso leis que permitissem cortar gastos, elevar impostos e reduzir a rigidez do Orçamento, desvinculando receitas de gastos predeterminados.
A segunda frente de batalha travou-se primeiramente com os estados, que acumulavam gigantescas dívidas com a União e não as vinham pagando com a regularidade devida. Pôr fim à inadimplência quase generalizada dentro do setor público e impedir que ela viesse a se repetir no futuro constituíam também tarefas indispensáveis à reconstrução de credibilidade do governo.
A terceira frente constituiu em defender a necessidade de caminhar no processo de privatização de empresas estatais, não só para ajudar o esforço fiscal, mas principalmente para promover investimentos na expansão e melhoria de serviços públicos, conforme a sociedade exigia de um governo sem recursos. Ainda que nessa fase não tenha podido progredir muito, a insistência na ideia preparou o terreno para, quando cheguei à presidência, deslanchar as privatizações nos setores de infraestrutura.
A quarta frente dizia respeito à renegociação da dívida externa e o retorno do Brasil ao mercado financeiro internacional, com a suspensão da moratória. A conclusão do acordo da dívida, em bases satisfatórias para o país, era outro dos elementos fundamentais para a recuperação da confiança, não somente do mundo financeiro internacional, mas também da própria sociedade brasileira.
A Arte de Política - Fernando Henrique Cardoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário