APOS O BOOM, O CRASH PREVISÍVEL COMO A LUA (Transcrito de Balanço Financeiro, dezembro de 1987)
Quando nosso mercado acionário desmoronou em junho de 1971, um especulador que não sabia operar com a Bolsa em baixa disse-me que iria cair fora dos pregões e que só voltaria quinze anos depois.
Ele tinha desenvolvido uma teoria de ciclos da Bolsa e pelos seus cálculos o mercado somente voltaria a melhorar em 1986. Por que então ficar correndo riscos, se o seu dinheiro poderia ficar bem mais abrigado em títulos de renda fixa?
Segundo a teoria, os booms começam quando malucos irresponsáveis, que nunca passaram sequer pelo calçadão da Bolsa de Valores, e que em determinado momento possuem mais dinheiro do que merecem e do que têm capacidade de administrar, desembestam ao mesmo tempo no mercado acionário, atraídos por boatos de que lá muita gente está fazendo ou aumentando fortunas.
Boom é prenúncio do Crash. A massa de dinheiro irresponsável que entra no mercado é tão grande que as cotações sobem a níveis incontroláveis e atingem patamares que os profissionais logo reconhecem como sendo irreais.
Para os verdadeiros profissionais, é tempo da colheita. Eles embolsam os seus lucros e se retirar para uma distância prudente, deixando o campo aberto para a turba predatória. E a bolsa vira pandemônio.
Estabelecido o caos, a autoridade intervém e a algazarra termina, com grande frustração dos participantes. Eles então caem na realidade, recolhem o que podem salvar e vão para casa envergonhados.
O normal é ficarem tão traumatizados que durante muito tempo não quererão nem ouvir falar de Bolsa de Valores nem de qualquer outra modalidade de jogatina.
Mas a vida passa, e eis que um dia, quinze anos depois, muitas dessas pessoas estão com as vidas e as fortunas refeitas.
Quinze anos também é o tempo suficiente para surgir nova geração de indivíduos mais refinados e mais capacitados para ganhar dinheiro do que os da geração anterior. E mais ousados e ambiciosos.
A massa de dinheiro que esse pessoal acumulou está pronta para desembocar na Bolsa de uma só vez, e causar mais um Boom, que naturalmente traz o germe de novo crash. Tão previsível como as fazes da lua.
Embora a teoria tivesse lógica, a marcação da data parecia pura adivinhação, por isso não levei o assunto a sério. Mas, por coincidência ou por qualquer outro motivo, a teoria funcionou com a exatidão prevista.
Quinze anos depois da previsão - em julho de 1986 - , quando a Bolsa despencou após dois meses de altas estapafúrdias provocadas pelo Plano Cruzado, aquele mesmo especulador telefonou-me para dizer:
-Eu não falei?
Ele estava tão eufórico quanto o cientista que vê sua teoria comprovada pelos fatos. Atuando ativamente no mercado de opções, arriscou toda a sua fortuna e multiplicou-a por dez.
Ele saiu do mercado bem das da quebra. Nunca vi ninguém com tanta confiança no taco.
Fonte: Faça Fortuna com Ações - Décio Bazin